Se você considera importante manter mais de 500 contatos no LinkedIn ou se orgulha da coleção de cartões corporativos, é melhor repensar sua estratégia de networking. Dois estudos recentes mostram que qualidade é melhor que quantidade na hora de montar uma rede de contatos eficiente aquela que de fato vai ajudá-lo a resolver problemas de negócios e a encontrar um novo emprego. Uma das pesquisas é a do antropólogo inglês Robin Dunbar, que ficou conhecido nos anos 90 por pregar que o cérebro humano é capaz de estabelecer círculos de amizade com no máximo 150 pessoas.
O cientista, da Universidade de Oxford, refez a pesquisa analisando o tráfego de sites de relacionamento, como Facebook e Plaxo, e concluiu que a tecnologia não ajuda na expansão da rede de amigos. Mesmo com mil contatos no LinkedIn, uma pessoa interage pela web, no período de um ano, com no máximo 150, repetindo o comportamento do mundo real. Em outro estudo, os americanos John Hagel e John Seely Brown, do Center for the Edge, instituto de análises da consultoria Deloitte, propõem uma revisão na maneira convencional de fazer networking.
Segundo os consultores, a abordagem comum, que consiste em conhecer muitas pessoas e recorrer a elas quando necessário como na hora de procurar emprego , acaba criando relacionamentos baseados em interesse, em que um lado enxerga o outro com desconfiança. O método não funciona na prática porque, dizem os autores, não cria engajamento entre as partes na solução do seu problema. O que dá certo numa rede de contatos, diz John Hagel em entrevista a VOCÊ S/A, é investir na criação de relacionamentos consistentes, baseados em confiança. Só que isso leva tempo e exige esforço pessoal, o que acaba por eliminar a possibilidade de envolver muitas pessoas. Mas como desenvolver essa rede qualificada? A resposta é a troca de conhecimento, explica Hagel, que, com seu colega Brown, lançará em abril, nos Estados Unidos, o livro The Power of Pull (O poder de puxar), sem previsão de publicação no Brasil, no qual apresentam a teoria de networking eficaz.
A base da tese é a utilização de um tipo de conhecimento que os autores batizam de tácito, uma série de aprendizados que a pessoa guardou de suas experiênmostra cias, mas que não tem facilidade para expressar. Ao contrário das realizações que o profissional usa para fazer marketing pessoal, o conhecimento tácito só vem à superfície quando há um diálogo franco entre duas pessoas. Uma conversa atenta permite que a experiência mais rica do profissional apareça, diz Flávia Portella, consultora da DBM, empresa de outplacement, que trabalha com executivos que precisam aprimorar o networking para se recolocar. Explorar a sabedoria que você tem, mas não sabe, não é um exercício fácil. Requer do profissional disposição para ouvir com atenção e aprender com a outra pessoa. A partir do que o outro diz, você pode verificar o seu repertório seu conhecimento tácito e sugerir soluções para ele.
Quando o conselho é bom, e se transforma em ajuda efetiva, você ganha pontos com essa pessoa. Ela se sentirá grata e, quando você tiver um problema, ela vai tentar ajudá-lo. Agora, imagine fazer isso com mil pessoas. É improvável que você consiga. Por isso, colecionar cartões de apresentação é uma tarefa quase inútil se não tiver um vínculo forte com o dono do cartão. Para os consultores da Deloitte, fazer networking é, acima de tudo, um exercício de coragem. Expressar esse saber tácito é desafiador porque exige disposição para reconhecer fraquezas pessoais e erros, explica Hagel. Pode ser duro, mas conseguir fazer isso, porém, é a chave do sucesso.
Mostrando suas questões mais pessoais você deixa os outros saberem quem você realmente é, diz Flávia Portella, da DBM. Mais importante e eficiente que ficar perguntando a história dos outros profissionais, segundo Hagel, é encontrar pessoas que compartilhem o mesmo desafio que você e, a partir daí, tentar resolver o problema em conjunto. Além de somar os conhecimentos existentes, as pessoas podem desenvolver coisas novas juntas, o que é mais legal, explica.
AJUDA NATURAL
Em busca de compartilhar questões profissionais, um grupo de vice-presidentes e diretores de marketing de grandes empresas se reúne mensalmente em São Paulo, no comitê de executivos de marketing da organização internacional World Trade Center (WTC). O grupo é restrito a 40 pessoas, para garantir alto nível na conversa. Isso cria um espaço onde os executivos se sentem à vontade para expor questões estratégicas, que são difíceis de ser discutidas dentro da empresa.
A base da coisa é confiança. Os números discutidos ali nunca são expostos e concorrentes são proibidos. Isso permite que a gente receba conselhos qualificados, estabeleça boas parcerias de negócios e crie uma proximidade profissional, diz Marcus Vinicius Georgi, diretor de marketing da SAP, responsável pela unidade Business Objects.
Quando o networking é feito dessa maneira, as sondagens de emprego aparecem de modo natural entre dois conhecidos. O lado da carreira faz parte desse convívio, diz Marcus Vinicius. No networking convencional, você empurra seus interesses para os outros, disparando e-mails e telefonemas para pessoas com as quais tem pouca intimidade. O certo, diz John Hagel, é fazer o contrário, ou seja, atrair pessoas para perto de você. A sugestão do consultor é comunicar quais são as coisas de que gosta, nas áreas em que se considera competente. Isso pode ser feito em qualquer meio, de redes virtuais a festas, de apresentações corporativas a discussões no café do corredor, afirma.
Se o interlocutor tiver interesses e conhecimento nos mesmos assuntos, o receio de se expor diminuirá e será superado pelo desejo de se conectar e aprender. Embora estejam ligados à imagem do networking comum, na qual quantidade é mais importante do que qualidade, sites de relacionamento, como LinkedIn e Facebook, podem ser bem utilizados. A boa prática consiste em buscar pessoas que compartilhem o mesmo interesse, o que é diferente de pedir favor. Você pode atrair gente que vive dilemas semelhantes ao seu que você nem sabia que existia, diz gel.
Esta é, por exemplo, a história razoavelmente conhecida da origem do sistema operacional Linux, rival do Windows, da Microsoft. Seu pai, o finlandês Linus Torvalds, tentando solucionar um problema pessoal de programação de computador, resolveu pedir a ajuda de outros programadores pela Usenet, uma rede ancestral à internet.
Sem querer, descobriu que havia, ao redor do mundo, vários programadores com o mesmo desafio. O Linus Torvalds publicou o código do sistema e, a partir daí, angariou uma comunidade de voluntários que tinha os mesmos objetivos e problemas, que se dispôs a contribuir, conta Rafael Peregrino da Silva, CEO da Linux Media, editora que publica a revista Linux Magazine.
NOVAS PRÁTICASPara John Hagel, do Center for the Edge, esse novo tipo de networking exige que as pessoas mudem seus hábitos. Entre as ações citadas estão desde a criação de blogs ou a participação de discussões online até escolher viver em cidades ou bairros onde um determinado tipo de conhecimento é explorado de maneira mais intensa. A meta é pensar sempre em como atrair para nós mesmos a atenção de pessoas relevantes, diz Hagel. O publicitário paulista Guilherme Loureiro, de 28 anos, gerente de mídia digital da agência de publicidade Talent, ganhou notoriedade na comunidade de mídia eletrônica por meio de um evento que começou a organizar há dois anos, o Happy Hour do Mercado Digital. De um encontro de networking para 16 pessoas, o evento cresceu e chegou a ter 500 participantes em uma de suas edições.
Em um determinado momento, Guilherme resolveu criar uma comunidade virtual na rede Ning, a Happy Hour do Mercado Online (HHMOnline), que hoje conta com 1 600 profissionais de publicidade digital. Conheci muitas pessoas, já fui convidado para dar palestras, diz. A maior contribuição da rede, afirma Guilherme, é exatamente proporcionar que pessoas com desafios comuns se encontrem e troquem informações. Pensei na rede como uma forma de conectar profissionais jovens, que sofrem com pouco espaço para crescer no mercado, diz ele.
O legal é ver as pessoas se conectando, trocando informações, fazendo negócios e arrumando vagas. Segundo Hagel, o mundo está entrando numa fase em que para ser inovador ou manter-se competitivo é importante ter acesso aos locais onde circulam as melhores informações e as pessoas só vão conquistar esse acesso por meio de relacionamentos de confiança. Se você ainda não havia pensado nesse tipo de networking, está na hora de começar.
Fonte: Você S/A
O cientista, da Universidade de Oxford, refez a pesquisa analisando o tráfego de sites de relacionamento, como Facebook e Plaxo, e concluiu que a tecnologia não ajuda na expansão da rede de amigos. Mesmo com mil contatos no LinkedIn, uma pessoa interage pela web, no período de um ano, com no máximo 150, repetindo o comportamento do mundo real. Em outro estudo, os americanos John Hagel e John Seely Brown, do Center for the Edge, instituto de análises da consultoria Deloitte, propõem uma revisão na maneira convencional de fazer networking.
Segundo os consultores, a abordagem comum, que consiste em conhecer muitas pessoas e recorrer a elas quando necessário como na hora de procurar emprego , acaba criando relacionamentos baseados em interesse, em que um lado enxerga o outro com desconfiança. O método não funciona na prática porque, dizem os autores, não cria engajamento entre as partes na solução do seu problema. O que dá certo numa rede de contatos, diz John Hagel em entrevista a VOCÊ S/A, é investir na criação de relacionamentos consistentes, baseados em confiança. Só que isso leva tempo e exige esforço pessoal, o que acaba por eliminar a possibilidade de envolver muitas pessoas. Mas como desenvolver essa rede qualificada? A resposta é a troca de conhecimento, explica Hagel, que, com seu colega Brown, lançará em abril, nos Estados Unidos, o livro The Power of Pull (O poder de puxar), sem previsão de publicação no Brasil, no qual apresentam a teoria de networking eficaz.
A base da tese é a utilização de um tipo de conhecimento que os autores batizam de tácito, uma série de aprendizados que a pessoa guardou de suas experiênmostra cias, mas que não tem facilidade para expressar. Ao contrário das realizações que o profissional usa para fazer marketing pessoal, o conhecimento tácito só vem à superfície quando há um diálogo franco entre duas pessoas. Uma conversa atenta permite que a experiência mais rica do profissional apareça, diz Flávia Portella, consultora da DBM, empresa de outplacement, que trabalha com executivos que precisam aprimorar o networking para se recolocar. Explorar a sabedoria que você tem, mas não sabe, não é um exercício fácil. Requer do profissional disposição para ouvir com atenção e aprender com a outra pessoa. A partir do que o outro diz, você pode verificar o seu repertório seu conhecimento tácito e sugerir soluções para ele.
Quando o conselho é bom, e se transforma em ajuda efetiva, você ganha pontos com essa pessoa. Ela se sentirá grata e, quando você tiver um problema, ela vai tentar ajudá-lo. Agora, imagine fazer isso com mil pessoas. É improvável que você consiga. Por isso, colecionar cartões de apresentação é uma tarefa quase inútil se não tiver um vínculo forte com o dono do cartão. Para os consultores da Deloitte, fazer networking é, acima de tudo, um exercício de coragem. Expressar esse saber tácito é desafiador porque exige disposição para reconhecer fraquezas pessoais e erros, explica Hagel. Pode ser duro, mas conseguir fazer isso, porém, é a chave do sucesso.
Mostrando suas questões mais pessoais você deixa os outros saberem quem você realmente é, diz Flávia Portella, da DBM. Mais importante e eficiente que ficar perguntando a história dos outros profissionais, segundo Hagel, é encontrar pessoas que compartilhem o mesmo desafio que você e, a partir daí, tentar resolver o problema em conjunto. Além de somar os conhecimentos existentes, as pessoas podem desenvolver coisas novas juntas, o que é mais legal, explica.
AJUDA NATURAL
Em busca de compartilhar questões profissionais, um grupo de vice-presidentes e diretores de marketing de grandes empresas se reúne mensalmente em São Paulo, no comitê de executivos de marketing da organização internacional World Trade Center (WTC). O grupo é restrito a 40 pessoas, para garantir alto nível na conversa. Isso cria um espaço onde os executivos se sentem à vontade para expor questões estratégicas, que são difíceis de ser discutidas dentro da empresa.
A base da coisa é confiança. Os números discutidos ali nunca são expostos e concorrentes são proibidos. Isso permite que a gente receba conselhos qualificados, estabeleça boas parcerias de negócios e crie uma proximidade profissional, diz Marcus Vinicius Georgi, diretor de marketing da SAP, responsável pela unidade Business Objects.
Quando o networking é feito dessa maneira, as sondagens de emprego aparecem de modo natural entre dois conhecidos. O lado da carreira faz parte desse convívio, diz Marcus Vinicius. No networking convencional, você empurra seus interesses para os outros, disparando e-mails e telefonemas para pessoas com as quais tem pouca intimidade. O certo, diz John Hagel, é fazer o contrário, ou seja, atrair pessoas para perto de você. A sugestão do consultor é comunicar quais são as coisas de que gosta, nas áreas em que se considera competente. Isso pode ser feito em qualquer meio, de redes virtuais a festas, de apresentações corporativas a discussões no café do corredor, afirma.
Se o interlocutor tiver interesses e conhecimento nos mesmos assuntos, o receio de se expor diminuirá e será superado pelo desejo de se conectar e aprender. Embora estejam ligados à imagem do networking comum, na qual quantidade é mais importante do que qualidade, sites de relacionamento, como LinkedIn e Facebook, podem ser bem utilizados. A boa prática consiste em buscar pessoas que compartilhem o mesmo interesse, o que é diferente de pedir favor. Você pode atrair gente que vive dilemas semelhantes ao seu que você nem sabia que existia, diz gel.
Esta é, por exemplo, a história razoavelmente conhecida da origem do sistema operacional Linux, rival do Windows, da Microsoft. Seu pai, o finlandês Linus Torvalds, tentando solucionar um problema pessoal de programação de computador, resolveu pedir a ajuda de outros programadores pela Usenet, uma rede ancestral à internet.
Sem querer, descobriu que havia, ao redor do mundo, vários programadores com o mesmo desafio. O Linus Torvalds publicou o código do sistema e, a partir daí, angariou uma comunidade de voluntários que tinha os mesmos objetivos e problemas, que se dispôs a contribuir, conta Rafael Peregrino da Silva, CEO da Linux Media, editora que publica a revista Linux Magazine.
NOVAS PRÁTICASPara John Hagel, do Center for the Edge, esse novo tipo de networking exige que as pessoas mudem seus hábitos. Entre as ações citadas estão desde a criação de blogs ou a participação de discussões online até escolher viver em cidades ou bairros onde um determinado tipo de conhecimento é explorado de maneira mais intensa. A meta é pensar sempre em como atrair para nós mesmos a atenção de pessoas relevantes, diz Hagel. O publicitário paulista Guilherme Loureiro, de 28 anos, gerente de mídia digital da agência de publicidade Talent, ganhou notoriedade na comunidade de mídia eletrônica por meio de um evento que começou a organizar há dois anos, o Happy Hour do Mercado Digital. De um encontro de networking para 16 pessoas, o evento cresceu e chegou a ter 500 participantes em uma de suas edições.
Em um determinado momento, Guilherme resolveu criar uma comunidade virtual na rede Ning, a Happy Hour do Mercado Online (HHMOnline), que hoje conta com 1 600 profissionais de publicidade digital. Conheci muitas pessoas, já fui convidado para dar palestras, diz. A maior contribuição da rede, afirma Guilherme, é exatamente proporcionar que pessoas com desafios comuns se encontrem e troquem informações. Pensei na rede como uma forma de conectar profissionais jovens, que sofrem com pouco espaço para crescer no mercado, diz ele.
O legal é ver as pessoas se conectando, trocando informações, fazendo negócios e arrumando vagas. Segundo Hagel, o mundo está entrando numa fase em que para ser inovador ou manter-se competitivo é importante ter acesso aos locais onde circulam as melhores informações e as pessoas só vão conquistar esse acesso por meio de relacionamentos de confiança. Se você ainda não havia pensado nesse tipo de networking, está na hora de começar.
Fonte: Você S/A
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